sábado, 24 de outubro de 2009

Será uma espécie de anestesia?

"Como eu mesma ainda sou tão jovem e cheia de vontade indescritível de não me deixar arrasar e ter a sensação de poder ajudar a preencher vazios surgidos e para isso sentir forças, dificilmente me apercebo de quão empobrecidos, nós jovens, nos encontramos, e quão solitários ficamos. Ou será também uma espécie de anetesia?"

Acabei de ler esse pequeno trecho do Diário de Etty Hilesum e as palavras dela ficaram (ficam sempre) sobrevoando os meus pensamentos de uma maneira que me obriga a pensar com alguma profundidade, talvez nem tanta como ela, mas mesmo assim é descer fundo na consciência que tenho da vida, de mim, do mundo. De repente pensei nas anestesias que vivemos ou que fingimos viver, não sei bem. Estar anestesiado é ter dor e não a sentir, saber que ela está lá mas não confrontar-se de frente com o que dói. E isso também pode ser um estado de indiferença de tudo o que corre mal a volta. É como não dar importância nem a minha capacidade de bem nem à aquilo que sou capaz de melhorar.
Ás vezes sinto-me com uma enorme responsabilidade de "ajudar a preencher vazios surgidos" e sinto que posso faze-lo, então me encho de forças. Outraz vezes, mudo a estratégia para um otimismo pouco fundamentado que me anestesia de tudo isso. E agora pergunto: qual é o limite entre a minha força para Ser e fazer e a minha pequenez?

domingo, 11 de outubro de 2009

Amigos, de Oscar Wilde

“Não escolho os meus amigos pela cor da pele ou por outro arquétipo qualquer, mas pela pupila: tem que ter brilho questionador no olhar e tonalidade inquietante. A mim não interessa os bons de espírito nem os maus de hábito. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo; deles não quero resposta, quero meu avesso; que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim. Para isso só sendo louco. Quero-os santos para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pela injustiça. Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta. Não quero só o ombro ou o colo, quero também a sua maior alegria: amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos ou chatos, quero-os metade infância, metade velhice. Crianças para que não esqueçam o valor do vento no rosto e velhos para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou, pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril.”