quinta-feira, 17 de julho de 2008

A viagem


Naquele dia, acordei com um sorriso que não conseguiria descrever com todas as palavras bonitas que conheço. Levantei-me da cama quase aos pulos, disse tantas vezes "obrigada" pelo caminho até a cozinha que a minha gratidão já existia para o resto da minha vida. Bebi um café doce. Doce era a sensação que eu sentia vibrar no meu coração. Já estava tudo pronto. As malas arrumadas e empilhadas no carro lá fora a minha espera. A minha mãe gritando para eu não demorar (e chorando ao mesmo tempo). Tinha que me apressar. Não podia perder aquele vôo. O vôo que me devolveria tudo de mais importante que consegui conquistar. Tomei um banho apressado. Mas deu tempo suficiente para cantarolar a minha alegria. Cheguei ao aeroporto como se aquele lugar fosse quase o paraíso. Tive tempo de atender alguns telefonemas de amigos que se despediam. Abraçei a minha família que ficou (e que só iria dias mais tarde). E embarquei. Para uma viagem curta (devido a falta de tempo) mas para a viagem mais importante da minha vida. Eu estava indo de férias para o Brasil, depois de tanto tempo, depois de tantas saudades acumuladas e choradas. O dia chegou. Não era mais nenhum sonho. Eu estava indo para lá. E mais do ver de novo o lindo Cristo Redentor do meu Rio de Janeiro, iria reencontrar os meus amigos, a minha segunda família... O meu irmão estava me esperando no aeroporto do Rio. A gente tinha tudo combinado. Era surpresa pra quase todo mundo. Mas dele eu não consegui esconder. Como sempre. Como aconteceu durante os anos que passamos longe. A viagem parecia nunca mais acabar. A minha ansiedade é que não acabava mesmo! Não consegui dormir imaginando a cara dele quando me visse, imaginando o nosso longo abraço, imaginando as horas de conversa que teríamos, imaginando tudo o que a gente iria lembrar, chorar e rir. E imaginando que eu não precisaria imaginar mais nada disso. Mais algumas horas e seria tudo real. Cheguei no desembarque do aeroporto depois de perder algum tempo a procura das malas, eram muitas por causa dos presentes. Quando eu sai, ele já estava lá. Rindo e ao mesmo tempo sem saber o que fazer. Só me lembro de correr e chorar e rir e abraçar e beijar e apertar bem forte aquelas costelinhas dele. Só me lembro que aquele momento era bem melhor que os meus sonhos. Eu tinha acabado de reencontrar o meu irmão. O motivo para quase tudo na minha vida. A razão que me fez voltar. Ele me olhou com aquela cara de quem me conhece mais que todo mundo. A gente nem precisava dizer nada. A gente já sabia que seria assim. Fomos para a casa. A casa dele. Ou melhor, a nossa casa. Era só por uns dias. Fazia parte da surpresa ficar escondida lá. Fazia parte do plano "matar saudades" também. Abraçei forte a minha segunda mãe quando entrei pela porta da cozinha. Ela já não lembrava muito bem de mim, mas me reconheceu. Deixamos escapar lágrimas. Era tão bom me sentir em casa daquela forma. Era tão bom ter o braço do meu irmão no meu pescoço. O sorriso dele. A nossa alegria. E eu tinha a sensação que nada no mundo poderia superar aquele grande amor. O calor não vinha só do sol e do maravilhoso clima tropical da minha terra. O calor vinha do coração aconchegado. Mais felicidade que essa nunca vi, senti nem idealizei. Mas sabia que existia. Expreimentaria no dia seguinte quando visse a família toda reunida de novo, como prometemos um dia. O Gustavo (irmão mais novo) não ia dormir em casa. Eu ainda não tinha visto o "meu fortinho do cabelo louro". Teria que aguentar mais um bocadinho. E estar naquela casa depois de tanto tempo me fazia pensar que os acasos da vida são pequenos motivos de Deus. Estar ali, naquele sofá, no colo do meu irmão depois de chorar tantas vezes pela falta dele, me trouxe a certeza de que os amigos de verdade permanecem... Eu pedi pra ele fazer pipoca pra mim, como nos velhos tempos. Ele fez e a gente começou a contar todos os episódios da temporada que passamos longe. Passamos a madrugada toda assim. E eu poderia passar o resto da vida. Adormeci imaginando o dia seguinte, os outros reencontros...

P.s. Dedicado a Thiago Kuerques, o meu irmão. A história do nosso reencontro. Como eu prometi. Está quase a chegar... Eu te amo!

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