sábado, 24 de outubro de 2009

Será uma espécie de anestesia?

"Como eu mesma ainda sou tão jovem e cheia de vontade indescritível de não me deixar arrasar e ter a sensação de poder ajudar a preencher vazios surgidos e para isso sentir forças, dificilmente me apercebo de quão empobrecidos, nós jovens, nos encontramos, e quão solitários ficamos. Ou será também uma espécie de anetesia?"

Acabei de ler esse pequeno trecho do Diário de Etty Hilesum e as palavras dela ficaram (ficam sempre) sobrevoando os meus pensamentos de uma maneira que me obriga a pensar com alguma profundidade, talvez nem tanta como ela, mas mesmo assim é descer fundo na consciência que tenho da vida, de mim, do mundo. De repente pensei nas anestesias que vivemos ou que fingimos viver, não sei bem. Estar anestesiado é ter dor e não a sentir, saber que ela está lá mas não confrontar-se de frente com o que dói. E isso também pode ser um estado de indiferença de tudo o que corre mal a volta. É como não dar importância nem a minha capacidade de bem nem à aquilo que sou capaz de melhorar.
Ás vezes sinto-me com uma enorme responsabilidade de "ajudar a preencher vazios surgidos" e sinto que posso faze-lo, então me encho de forças. Outraz vezes, mudo a estratégia para um otimismo pouco fundamentado que me anestesia de tudo isso. E agora pergunto: qual é o limite entre a minha força para Ser e fazer e a minha pequenez?

2 comentários:

António Valério,sj disse...

preencher os vazios surgidos... é uma missão enorme! Por vezes são vazios tão grandes que temso medo de nos perder. talvez porque não temos consciência da grandeza que podemos ser. Mas reconhecer-se que não se é salvador de tudo traz uma humildade que constrói muito. A humildade tem mesmo muita força.
Admiro muito as tuas reflexões. parabéns! beijinho muito grande

Thiago Kuerques disse...

Isso é sensacional! saudade é um preenchimento vazio.
E agora?
Te amo
Beijos