sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O menino da livraria

Trocaram olhares enquanto ela descia as escadas para uma espécie de subsolo da casa. Era uma mulher normal, bonita como qualquer mulher. Estava usando um vestido preto e salto alto. Camila, o nome dela. Rodrigo usava uma calça jeans velha e uma camisa preta. Estava arrumando a prateleira e ouvia uma música estranha. Ela tinha o hábito de visitar livrarias mas aquela vez tinha sido conscidência. Ia a caminho de uma confeitaria para encontrar uma amiga. Distraiu-se no volante e foi parar ali, numa rua sem saída. Aproveitou o engano para parar o carro e ir espreitar. Ele estava meio entediado com aquela sexta-feira chuvosa e vazia. Tinha um olhar penetrante, um ar intelectual, misterioso. Ela sempre achou os meninos das livrarias interessantes. E ele gostava de loiras que lessem Dostóiesvki. Trocaram olhares pela segunda vez. Estavam sozinhos. Para além deles, apenas os personagens de Saramago e os heterónimos de Pessoa. O lugar era acolhededor, tinha cheiro de livro novo misturado a um perfume qualquer. Enquanto ela folheava os destaques: romances e best-sellers fora de moda, ele mudou a música, criou coragem e ofereceu ajuda. Ela sorriu e disse que procurava obras de Inês Pedrosa. Enquanto procuravam, ficavam amigos. Até descobriram gostos parecidos, em menos de quinze minutos. Não havia o livro que ela queria, mas ele mostrou outros poetas. Disse que encomendava o livro para ela ir buscá-lo outro dia. Camila deixou nome e telefone e aaiu com pressa, sem comprar nada. Rodrigo ficou com a sensação que tinha encontrado quem procurava.

2 comentários:

Thiago Kuerques disse...

Que delicadeza. Gostei da narrativa leve. Parece haver continuação. Mas, por outro lado, talvez a insinuação tenha dito tudo. Parabéns, mana. Sabe que sou apaixonado por contos, né?
Te amo!

Thaís Alves disse...

Gostei muito da sua narrativa. Envolve e deixa um gostinho de quero mais... Volto em breve pra ver se tem mais mesmo! rsrs Um beijo!